domingo, 4 de janeiro de 2015

AFRODITE, O AMOR EM FORMA DE DEUSA; SEXO A SERVIÇO DE AFRODITE


Afrodite –a que alguns também chamam Vênus- a deusa do amor, do desejo, da beleza, da paixão, da atração e da reprodução.
Ela é quem protege aos esposos, outorga fecundidade aos lugares e se faz presente nos partos. Esta deusa tem –além disso- um lado selvagem e voluptuoso. Sabe manejar, como ninguém, a arte da sedução, os segredos, os sorrisos, as insinuações, os enganos e os engenhos. Maneja cuidadosamente a estratégia do amor e suas armadilhas conjuntamente com uma refinada combinação de prazeres. Diz-se que Afrodite deslumbra, hipnotiza e enfeitiça. Pode fazer com que qualquer homem se apaixone por ela somente pondo seus olhos nele. 

Sua origem é um mistério tal como corresponde ao amor. 
Quem pode dizer certamente de onde surge o amor?; quem lhe deu nascimento? Nós mortais só podemos especular algumas suposições. Por exemplo, alguns contam que Afrodite é anterior ao mesmo Zeus e que seu nome provém da palavra “espuma” já que ela surgiu entre as bolhas do mar depois que o deus Cronos, instigado por sua mãe, a deusa Gea, a Terra, mutilou a seu pai Urano, o Céu. Influenciado por Gea, a qual estava enciumada do poder de Urano, Cronos castrou a seu pai e atirou ao mar os restos da amputação, criando uma abundante e branca espuma, da qual surgiu uma linda jovem, totalmente adulta e desenvolvida.

Há quem diga que o nome Afrodite significa “a que vem ao anoitecer”. Por isso também a chamam Vênus, o nome do planeta que aparece no firmamento como a primeira estrela vespertina. Estes afirmam que a deusa da sensualidade é filha de Zeus e de Dione, a contraparte e o lado feminino da divindade primordial que é Zeus, o deus máximo do poder masculino.

Outros argumentam que Afrodite é, na verdade, duas deusas, uma velha e outra jovem. A mais velha é Urânia, filha de Urano; a jovem é Pandemos –cujo nome significa “de todo o povo”- e é a filha dos deuses Zeus e Dione. Pandemos é uma Afrodite comum, popular, representa o amor humano e carnal. A outra, Afrodite Urânia, é celestial, deusa do amor puro. Ambas compõe o amor humano e divino. 


SEXO A SERVIÇO DE AFRODITE



Em honra de Afrodite celebravam-se festejos chamados Afrodísias. Em seu templo, os homens devotos da deusa tinham contato sexual com as sacerdotisas de Afrodite, chamadas “hierodula ou qadishtu”,
título que significa “serva sagrada”. Este ritual era uma forma de adoração a deusa e uma celebração da fertilidade, uma prática habitual em quase todo o Oriente Médio e também em algumas partes do Ocidente. Na Grécia, certamente era realizada. A ninguém escandalizava este costume. A deusa do amor não espera outra coisa de seus devotos.  

As “escravas sagradas” dos templos eram mensageiras de Afrodite. Elas entravam numa espécie de transe ritual que incluía, entre outras coisas, este tipo de práticas, as quais se interpretavam como oferendas de devoção e ação de graças de comunhão com a divindade. Fazer sexo com a sacerdotisa ou o sacerdote significava uma ligação direta com a própria deusa e, portanto, garantia que esta atendesse qualquer que fosse o pedido que o fiel fazia ali. Em termos cristãos, é o pagamento antecipado de uma promessa. 
Eram mediadoras de oferendas, intercessoras de orações e dons, anunciadoras de oráculos divinos e propiciadoras de sacrifícios. Viviam uma “consagração”, uma dedicação exclusiva. 






Em alguns lugares o séquito de Afrodite também era formado por homens, os "qadesh", sacerdotes efeminados que vestiam-se como mulheres para preencher a função feminina.
O sacerdote de uma deusa tornava-se um eunuco e travesti, talvez porque os homens fossem "introduções secundárias no culto de deusas que originalmente foram servidas exclusivamente por mulheres". A castração de um sacerdote foi, em épocas posteriores, um substituto de seu próprio sacrifício. Os sacerdotes da deusa freqüentemente serviram como prostitutas masculinas para homens, uma função sexual semelhante à das sacerdotisas da deusa.
Eles afirmavam que a sexualidade está unida à experiência da transcendência. É a chave que abre as portas ao misterioso âmbito de conexão com o divino.
Não só o homem é sacrificado à Grande Mãe, mas ele se torna
representante dela, uma mulher usando o vestido dela. Se ele sacrifica sua masculinidade em castração ou em prostituição masculina é apenas uma variante. Os eunucos são, como sacerdotes, também prostitutos sagrados, são representantes da deusa cujo caráter sexual orgiástico supera seu caráter de fertilidade. 

Era uma prática comum para os sacerdotes assírios serem homossexuais, muitas vezes usavam roupas femininas para, assim, adquirirem os poderes mágicos da Deusa Mãe Ishtar; para que os sacerdotes superiores se castrem na imitação religiosa do deus Attis; e para os acólitos inferiores se prostituirem ritualmente a todos os homens que viessem ao templo (simbolicamente para coletar sêmen fertilizante da divindade e, em termos mais práticos, coletar dinheiro para manter o templo). Eles foram chamados de Qadesh, que significa "sagrados" - isto é, aqueles abençoados ou consagrados para este serviço divino. Este termo foi usado pelos hebreus como um equivalente exato para "sodomita", e o termo para as prostitutas do templo feminino, qedheshah, foi usado como equivalente para "prostituta" (ver I Reis 14.22-24, 15.12, 22.46; Deuteronômio 23.17 -18; Leviticus 18.3, 24-30, 20.23, todos os quais se relacionam especificamente com o homossexualismo religioso egípcio e cananita).

Há quem assevere que as hierodulas não podiam considerar-se sacerdotisas, já que o conceito de sacerdócio e de prostituição são - em si mesmos - incompatíveis. A prostituição sagrada tem suas notáveis diferenças com a prostituição profana. A sagrada é vivida como uma consagração religiosa a deusa do amor. A profana ou social consiste em mera transação sexual com fins econômicos.

A antiga ligação entre espiritualidade e paixão perdeu-se nas profundidades do inconsciente, deixando o sabor de insatisfação e monotonia nas relações. Falta alguma coisa, mas o que? Quando a Deusa do Amor ainda era honrada, a prostituta sagrada era virgem no sentido original do termo (“uma-em-si-mesma”), uma pessoa íntegra que servia de mediadora para que o amor da deusa chegasse até a humanidade. Nessa união de opostos - masculino e feminino, espírito e matéria - a dimensão humana era transcendida e entrava em contato com o divino. Naquele tempo, a sexualidade e a religião formavam um todo inseparável. A nossa vitalidade e alegria de viver dependem de restaurarmos ou não a alma da prostituta sagrada no lugar a que ela tem direito, a fim de nos proporcionar uma nova compreensão da vida.

No caso de Afrodite, este costume se relaciona com ritos vinculados a fecundidade, a feminilidade, a vida, a fecundação, 
a gestação, os ciclos naturais e a terra, símbolo da “mãe primordial”.

Para Afrodite tudo é uno: a divindade, a transcendência e a sexualidade. As hieródulas o viviam como uma homenagem, uma oferenda sem reservas, um tributo exclusivo, uma consagração que incluía estas determinadas práticas com os devotos. 

Para elas o amor requeria consagração, culto e entrega. 
Não havia distinção: o amor humano se fazia divino e o amor divino, humano. Em seu templo qualquer amor era amor e tudo é amor no amor.